"Eu só consigo dormir depois de escrever tudo o que está em mim. Todo dia preciso me esvaziar. Talvez seja o jeito que encontrei para me conhecer, me encaixar no mundo. Não procuro ideias geniais, histórias impossíveis. Eu me contento com a simplicidade das palavras, contanto que esta mesma simplicidade dome minha ansiedade, liberte minha timidez, vença meu medo. Escrever não é papel exclusivo dos escritores: é uma necessidade humana. É nesse exato momento, quando a caneta perfura delicadamente a brancura da página e começa a despertar as palavras adormecidas dentro de nós que eu me sinto mais humano, ou menos patético. Não quando acordo, não quando me alimento, não quando pego o metrô, não quando chego atrasado em uma reunião, não quando espero meu lugar na fila de um show qualquer, não quando perco um emprego, não quando leio Quintana, não quando digo eu te amo. Ali estou simplesmente vivendo. Escrever vai além: escrever é vida + palavra. E eu escrevo simplesmente para poder dormir: sonhar: sobreviver e me preencher de novo com novas palavras. Até amanhã.
[me ex-vazio; antônio]"
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