sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

A vez de Clarice Lispector

Saudades

Sinto saudades de tudo que marcou a minha vida.
Quando vejo retratos, quando sinto cheiros,
quando escuto uma voz, quando me lembro do passado,
eu sinto saudades...

Sinto saudades de amigos que nunca mais vi,
de pessoas com quem não mais falei ou cruzei...

Sinto saudades da minha infância,
do meu primeiro amor, do meu segundo, do terceiro,
do penúltimo e daqueles que ainda vou ter, se Deus quiser...

Sinto saudades do presente,
que não aproveitei de todo,
lembrando do passado
e apostando no futuro...

Sinto saudades do futuro,
que se idealizado,
provavelmente não será do jeito que eu penso que vai ser...

Sinto saudades de quem me deixou e de quem eu deixei!
De quem disse que viria
e nem apareceu;
de quem apareceu correndo,
sem me conhecer direito,
de quem nunca vou ter a oportunidade de conhecer.

Sinto saudades dos que se foram e de quem não me despedi direito!

Daqueles que não tiveram
como me dizer adeus;
de gente que passou na calçada contrária da minha vida
e que só enxerguei de vislumbre!

Sinto saudades de coisas que tive
e de outras que não tive
mas quis muito ter!

Sinto saudades de coisas
que nem sei se existiram.

Sinto saudades de coisas sérias,
de coisas hilariantes,
de casos, de experiências...

Sinto saudades do cachorrinho que eu tive um dia
e que me amava fielmente, como só os cães são capazes de fazer!

Sinto saudades dos livros que li e que me fizeram viajar!

Sinto saudades dos discos que ouvi e que me fizeram sonhar,

Sinto saudades das coisas que vivi
e das que deixei passar,
sem curtir na totalidade.

Quantas vezes tenho vontade de encontrar não sei o que...
não sei onde...
para resgatar alguma coisa que nem sei o que é e nem onde perdi...

Vejo o mundo girando e penso que poderia estar sentindo saudades
Em japonês, em russo,
em italiano, em inglês...
mas que minha saudade,
por eu ter nascido no Brasil,
só fala português, embora, lá no fundo, possa ser poliglota.

Aliás, dizem que costuma-se usar sempre a língua pátria,
espontaneamente quando
estamos desesperados...
para contar dinheiro... fazer amor...
declarar sentimentos fortes...
seja lá em que lugar do mundo estejamos.

Eu acredito que um simples
"I miss you"
ou seja lá
como possamos traduzir saudade em outra língua,
nunca terá a mesma força e significado da nossa palavrinha.

Talvez não exprima corretamente
a imensa falta
que sentimos de coisas
ou pessoas queridas.

E é por isso que eu tenho mais saudades...
Porque encontrei uma palavra
para usar todas as vezes
em que sinto este aperto no peito,
meio nostálgico, meio gostoso,
mas que funciona melhor
do que um sinal vital
quando se quer falar de vida
e de sentimentos.

Ela é a prova inequívoca
de que somos sensíveis!
De que amamos muito
o que tivemos
e lamentamos as coisas boas
que perdemos ao longo da nossa existência...

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Passa tempo

Paro
      ... logo penso
Passo
     ...todo tempo a sonhar

Vendo
    ... estrelas,
         a vida e o tempo passar

Nuvem
     ... a desenhar
  
O que outrora
      ... já foi flor,
         
Agora,
    ... é um espaço
          ... em branco.

( Luana Lopes )

sábado, 8 de janeiro de 2011

Não contar

Eu sou do tipo de pessoa que evita ao máximo se apaixonar, principalmente quando é algo que parece impossível, quando se trata do coração a coragem desaparece. E acredito que só o fato de tentar evitar já faz com que a atração pela outra pessoa só aumente. Como me incomoda, meu Deus. Nunca consegui contar uma paixão para alguém, é um peso suportável no extremo limite do suportável. Não contar é como ter ganho muito dinheiro e não poder gastar: a felicidade de ter toda a riqueza de nada tem valor. Não, exemplo idiota, porque na verdade não contar tem muito valor sim: é possível ficar feliz com cada ação conquistada sem cair em si. Acredito que contar uma paixão deveria ajudar a desapaixonar, por isso que sempre cogito em contar. E a auto-estima cai de novo lá em baixo quando penso nisso, porque não existe pessoa no mundo, não que eu conheça, e perdoem-me meus amigos, mas não há pra quem contar. Primeiro porque essa pessoa tem que conhecer a outra, e isso já dificulta porque não pode haver um nível de amizade entre as duas, ao mesmo tempo que tem que ter um nível alto de amizade comigo. Difícil. Não gosto de complicar, mas é por isso que prefiro não contar, até porque a partir do momento que você conta, aumentam os riscos. Risco de a pessoa saber, o definitivamente não é bom. O fato do outro saber só causa constrangimento. Ninguém passa a gostar por descobrir que alguém é apaixonado por ele. Miss corações solitários, acho que preciso de ajuda.

(Nina Zambiassi)

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

palavra poética

Ausência

Eu deixarei que morra em mim o desejo de amar os teus olhos que são doces
Porque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres eternamente exausto.
No entanto a tua presença é qualquer coisa como a luz e a vida
E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto e em minha voz a tua voz.
Não te quero ter porque em meu ser tudo estaria terminado.
Quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados
Para que eu possa levar uma gota de orvalho nesta terra amaldiçoada
Que ficou sobre a minha carne como nódoa do passado.
Eu deixarei... tu irás e encostarás a tua face em outra face.
Teus dedos enlaçarão outros dedos e tu desabrocharás para a madrugada.
Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu, porque eu fui o grande íntimo da noite.
Porque eu encostei minha face na face da noite e ouvi a tua fala amorosa.
Porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaço.
E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado.
Eu ficarei só como os veleiros nos pontos silenciosos.
Mas eu te possuirei como ninguém porque poderei partir.
E todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelas.
Serão a tua voz presente, a tua voz ausente, a tua voz serenizada.

(Vinícius de Moraes)

domingo, 2 de janeiro de 2011

Um fim!

"A gente se surpreende em saber o quanto pode suportar", frase dita em "House MD" e sem assistir a série muitas vezes vi escrita. É uma frase que nunca tinha surtido efeito para mim. E é tão simples que nem atenção me chamava. Mas as palavras vão e voltam quando precisamos dela, e no momento certo ela virou como um mantra. Força. Para suportar é preciso força. E por mais que a dor seja grande, é tão bom ver que não existe uma dependência como antes se achava. A liberdade surge e é sempre quado não se quer aproveita-la."


by. Nina Zambiassi